domingo, 31 de janeiro de 2010

A época dos coronéis

N o século XIX,até a terceira década do século XX,qualquer cidadão de boa reputação e rico , podia comprar um título de coronel.Foi quando um desses, que possuia este poder e era influente, resolveu usar seu prestígio para tomar as escrituras dos proprietários e formar um latifúndio de 8 léguas por 12, hoje a fazenda Bóris.Foi quando meu avô Cirilo Grude foi se refugiar no Amazonas, levando as escrituras de suas terras e esperar que este latifundiário perdesse o poder, que não demorou muito.
Chegando ele na Amazônia, foi acometido de cesão, retornando imediato até Fortaleza e enviou carta pedindo socorro.Só que o correio era feito à cavalo e demorou muito.
Minha avó, recebe à notícia envia 2 rapazes e 4 animais que demorou meses para chegar, no dia em que chegaram tinham sepultado Cirilo, como se fosse ontem e eles sepultaram seu colega de viagem.
Minha avó com 35 anos, assume uma grande responsabilidade 5 filhos esperando o sexto, 120 cabeças de gado, umas 300 quartas de arroz, uma boa quantia em ouro e 250 braças de terras na Palmeirinha e Lagoa Rasa.Até 1948, quando faleceu só tinha sido destruído o arroz e parte do gado.Ela se chamava Belizarina, mas para isso acontecer ela contou com o seu guia espiritual Jesus Cristo, que através de suas orações e caridade, educou seus 6 filhos dando educação religiosa, moral e de leitura pois era muito difícil professor, só particular.
Como era de costume preservar a fidelidade ao marido e mostrar esses sinais ela usou roupa preta pelo resto de sua vida, era uma saia, um cabeção e uma blusa de manga 3/4 ou comprida, sandália de rosto e echarpe na cabeça, era muito elegante e simpática.
Obrigado por ter sido minha avó e receba as minhas orações do seu neto.
Edval Cirilo

sábado, 23 de janeiro de 2010

DECLARAÇÃO DE MATRIMÔNIO

Em um belo dia do ano de 1958 às 6 horas da tarde na calçada da bodega de Raimundo Ribeiro,onde hoje é Bolena Variedades,fixei o olhar numa morena de estatura média,arribitada,cheia de rabiçaca,mas muito bonita.Senti logo algo diferente e começamos a nos flertar,a nos paquerar.Daí em diante passamos a ter pequenos contatos(namoro) que foram suficientes para se estabelecer uma amizade duradoura de identificação permanente até os anos de 1970.
No ano seguinte,isto é, em 1971,quando sentimos que a amizade(namoro) era pra valer decidimos levar a sério e nos casar.
Quero dizer que eu mesmo construí a nossa primeira morada,como também toda a mobília:da mesa de jantar ao criado mudo(ou porta penico).
O seu relacionamento, eu já sabia, era de temperamento forte.Apesar disso já convivemos há mais de 38 anos e percebo que em quase nada foi mudado neste seu temperamento. Mas isso não empatou de nos amarmos.
Prometemos no juramento que íamos partilhar as dores e as alegrias, mas isto custou muitos diálogos para acontecer. Vivemos de partilha nos afazeres domésticos,não somos escravos,não temos segredos entre nós,tudo é as claras,não escondemos nada um do outro. Vivemos de orações e temos como referência à Sagrada Família. Não somos santos,estamos apenas em busca da santidade. Queremos partilhar as nossas experiências.
Mas isso não significa que não houve atrito,mas vivemos do perdão.Sem isto fica difícil de se sustentar. Mas a mulher disse que é muito cedo para uma avaliação mais definida.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Biografia de João Cirilo Correia

Nascido no ano de 1900 no sítio Lagoa Rasa, 2º filho de Cirilo Grude. No início de sua juventude era um jovem que não parecia querer nada da vida. Gostava de festa, tinha harmônica, não quis estudar. Na primeira carta que recebeu da namorada, nem sabia ler nem escrever e nem mandou ninguém ler, daí a sua irmã Antonia que estava na escola passava os ensinamentos que aprendia para ele, daí tornou-se um homem letrado, muito religioso que tinha a Bíblia como um livro de cabeceira.
Muito trabalhador e muito caridoso, cuidava dos doentes da vizinhança, dando o alimento e às vezes tratando dos ferimentos.
Casado com Dulçulina, sua prima que tinha a mesma vocação para
servir. Na cozinha não faltava comida o dia inteiro para quem chegasse. O povo era muito pobre e era sua devoção dá esmola a quem pedisse, todos os dias. Na seca de 1942, um grupo de famintos andava saqueando as pessoas, ele soube e mandou chamá-los, dizendo que na casa dele não precisava agessão, quando quisessem podia vir buscar e levar o que puderem. Ele encheram os sacos, almoçaram, agradeceram e nunca mais retornaram.
Tinha uma visão geográfica e histórica do mundo, mais para isso, ele tinha vários mapas e livros para pesquisas. Foi duas vezes à São Paulo, uma por Fortaleza, à navio em 1928 e outra pelo rio São Francisco, à vapor em 1940, com a intenção de conhecer geograficamente. Era conhecido naquela região como o "pai da pobreza", era muito humilde, capaz de pedir perdão por qualquer coisa. Foi aí que ele escreveu uma belíssima carta, ao seu grande amigo Edvardo Ribeiro, pedindo pelo amor de Deus um chão no cemitério para seu sepultamento, sendo atendido com todo prazer, ainda hoje temos a cópia desta carta.
Morreu no ano de 1964, com 64 anos, deixou sete filhos, seis casados e um solteiro. Passou dois anos sem trabalhar, mais sobrou seiscentas arrobas de algodão e duzentas quartas de arroz. Por isso faz valer o ditado "quem dá aos pobres, empresta a Deus".
Do sobrinho e afilhado que tanto lhe admirava.

Edval Cirilo

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

NOS ANOS DE 1940 ATÉ 1964

Que eu tenho lembranças ir à Crato era uma aventura. Nós que morávamos no Sítio Boqueirão,tínhamos que sair a uma hora da manhã para chegar às 6 horas e retornar às 9 horas para evitar a quentura.
Era à pé ou à cavalo e no percurso tinha muitas moradias que eram pontos de referência,onde havia muitos reencontros de amigos que formavam mais amizade.Alguns pontos de referência: a bodega de Missiano, a casa de Virgilina,de Blandina e Macário, o engenho de Calazans, a casa de Vicente Adeládia e Chico Bentivi,a bodega de Chico Mundinho,a casa de Manuel Leandro, a casa de João Catingueira, a casa dos Saturnos, a de Aprijo na beira do correntinho, os Laborão e daí chegava oa corredor de Mariquinha.Depois se chegava a casa de Marculino e a casa de farinha de Joaquim Batista e ao pé de oiticica,na entrada dos Altos. Em seguida vinha a casa de João Duarte para se chegar à Ponta da Serra.
Chegando em Ponta da Serra era hora de se tomar um cafezinho com pão-de-ló no café de Maria e Violeta.Prosseguindo viagem,se chegava a casa de Pedro Santana e à bodega de Zé Correia,no Juá.Depois vinha os Zaquiés, a morada dos Mané João,dos Pedros e a cajazeira de Raimundo Sabão,para poder chegar àbodega de Derval e ao corredor de Mundoza,após vinha a casa de Antônio Moraes,Seu Roque, Zé Abagaro, a casa de Simina e o rancho de Pastora,a casa de Zé de Emília e a casa de Gumercindo. Em seguida,vinha a cerca de pedra,local de assombrações.No meio da travessia uma venda de cachaça de Maria da Moita. Otrecho mais assombroso era na Lagoinha,onde morreu muita gente em 1914. Daí se chegava no brejo na entrada da bodega de Sebasto,onde ficavam as boleiras, o engenho de Ramiro, a casa de Boeiro, a bodega de Aspício,o engenho de Felipe, depois o de Dr. luiz. Aí se chegava ao corredor do brejo com um longo percurso se chegava ao engenho de Dr. Rolim.
A última parada,era no armazém de João Agostinho,de onde se apreciava a vista parcial do Crato.As principais compras eram:querosene, o sal, o fumo, a rapadura, a farinha e outras coisas que coubessem nos caçuás.Não podia faltar a carne seca, o piqui pra quando chegar fazer com arroz branco.A carne era para assar no espeto e depois passar o espeto melado de gordura por cima do prato e saborear.Essas são algumas das minhas recordações que não podia deixar de registrar.
Edval Cirilo

domingo, 10 de janeiro de 2010

A MAGIA DE SER CRIANÇA

Foi assim comigo até os 10 anos no sítio Lagoa Rasa, a nossa casa era dentro de uma floresta,com direito, as melhores sinfonias de pássaros.As casa mais próximas eram distantes 300 metros e o acesso para chegar era uma vareda,daí chegávamos na casa de minha avó e dos meus dois tios.No terreiro da casa tinha vários tinguizeiros,que era a matéria prima para fazer sabão.Criávamos muitas abelhas que produziam mel para o consumo. Nos arredores,tinha outro tipo de abelha,como a Cupira,munduri, a mandassaia e outros tipos.
No inverno havia vários frutos do mato como a murta, a ameixa, o croatá, etc.
Plantávamos cana, e como era bom nos tempos das moagens que a família ia tirar alfinim, beber garapa, comer bola de rapadura quente. Havia muitas mangueiras,cada uma tinha um nome: a mangueira grande, a cambiteira,a do Padre Assis, etc. Havia as caçadas com armadilhas como a bésta, o batoque, o laço,o quichó, o fôjo e a arataca. As brincadeiras com pião, peteca, cinturão queimado.
O banho no poço do velho Firmino que era uma piscina pública que atraia todos os meninos. E as noites de escuro com histórias assombrosas. E as belas noites de lua clara,onde se contemplava o cruzeiro do sul, com toda sua constelação. E as novenas e a renovação do na casa da minha avó! Com um sobre céu acima do coração de Jesus e a sala toda enfeitada de flor e o aluar de rapadura com muito bolo curriento, os fogos de lágrimas enfeitando o terreiro,minha roupa nova neste dia: calça de suspensórios e camisa balangandã,alpargatas de vaqueta e cabelo repartido.
Para mim só tenho a recordar um tempo de magia,de alegria, de ilusões,mas,que valeu a pena recordar.
O amigo, o pai, o avô
Edval cirilo
A ECOLOGIA NA MINHA JUVENTUDE

Pretendo,nesse momento,falar um pouco do que era a ecologia no meu tempo de jovem(década de 50), quando morávamos no sítio Lagoa Rasa.
Nessa época, a floresta cobria 90% do território e o inverno era mais chuvoso.As enchentes do "riacho do inferno" inundavam a Lagoa Rasa.Milhares de sapos faziam uma belíssima sinfonia com permanência que duravam 15 dias.Ao despertar, era uma grande orquestra de pássaros que tinha como maestro um passarinho chamado Xexéu.Era grande a diversidade de pássaros que habitavam nesta nossa região.
A fartura de mel silvestre era grande.Havia entre várias abelhas,as mais produtivas, o Canudo, a Mandassaia, Cupira,Moça-branca, etc.
A agricultura era toda artesanal as pessoas dependiam dela, pois, não havia outra alternativa.Acolheita era toda manual.Apanhava-se arroz, cacho por cacho, formando uma moqueca entre os dedos.Na colheita era formado um adjunto que era troca do dia de serviço.Era uma festa;matava-se porco e galinha,não podia faltar o queijo.O almoço era servido na roça na palha de arroz.O legume era colocado num grande terreiro,no baixio,onde várias pessoas também colocavam,e era empilhado em forma de pote.
Nessa época, havia muita solidariedade entre as pessoas"a gente era feliz e não sabia",portanto, foi muito bom enquanto durou.
Nos idos de 1948, aos 9 anos de idade, eu, Edval Cirilo, e meu primo Linézio, de 13 anos, atendendo ao convite da professora Leonora, que lecionava no sítio Boqueirão ,filha de Vicente Brígido que trabalhava na feira vendendo farinha.Saímos às 14:hs.Era um lugar muito bonito.Partimos do hospital São Francisco,não tinha mais ruas, era só casa de sítio.
A paisagem era só de mata,pouca terra cultivada com cana-de-açucar e muitas fruteiras.Havia dois engenhos que funcionavam movidos a água e uma casa de força com uma turbina gerando energia para iluminar a cidade do Crato.
Toda essa beleza me impressionou.A casa que nos hospedamos era um grande chalé de palha,dentro de um palmeiral,em frente uma grande levada de água.Tudo era uma terapia na hora de dormir.Foi uma viagem inesquecível!50 anos depois,fiz o mesmo percurso e encontrei muita destruição.Não preservaram as matas, nem os engenhos, nem a água nas nascentes, só encontrei o nome Lameiro.
Assim, deixo registrada essa minha experiência para os meus netos.